Há 80 anos o mundo caminhava para o fim da II Grande Guerra Mundial. Em 6 de junho de 1944, forças aliadas fizeram uma ofensiva no continente europeu para tentar livrá-lo do poderio nazista, começando pela França. Quando a notícia da operação chegou a Cachoeira, imediatamente a imprensa noticiou o fato, fazendo com que os cachoeirenses fossem tomados de euforia e alívio pelo acontecimento que entrou para a história como o "Dia D".
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O desembarque de tropas aliadas na Normandia - 6/6/1944 - odia.ig.com.br |
O Jornal do Povo, em sua edição de 8 de junho de 1944, na primeira página, publicou o tópico Panorama Internacional, assim redigido:
A sorte está lançada para o mundo. As operações militares que os aliados iniciaram ante-ontem na costa francesa, fronteira a Inglaterra, constituem já as avançadas da invasão contra a Fortaleza de Hitler.
Cumprindo sua promessa aos povos oprimidos da Europa, os anglo-americanos estão abrindo, a golpes de extrema audácia e poder, a grande oportunidade para as esperanças de liberdade de milhões de seres humanos.
É este, precisamente, o comêço do fim da guerra. O sentido da luta, que num determinado momento esteve tão obscuro, como por ocasião da queda da França, está hoje bem definido para as armas aliadas.
Desde que se revelou a incrível resistência dos ingleses aos bombardeios, o imenso poderio dos russos e se verificou a participação dos norteamericanos na contenda, os acontecimentos tiveram seus rumos profundamente modificados.
Em três momentos bem distintos e em três teatros de operações grandemente distanciados, tiveram lugar os fatos que prenunciavam a futura derrota dos nazistas. Foi nos céus de Londres, quando a Luftwaff foi dali repelida, foi depois em Stalingrado, quando o heroismo russo se sobrepôs à lenda de invencibilidade da Wermacht, e foi na A´frica, quando as fôrças anglo americanas desfizeram o sonho germânico do domínio de Suez, e fizeram daquela região a base para o controle absoluto do Mediterrâneo.
Êstes três acontecimentos capitais formaram o triângulo de fôrças que envolvem os teatros de guerra dos dois ditadores europeus. Em consequência disto, mais tarde, em operações mais diretas contra a Fortaleza Europa, os aliados desfecharam novo e esmagador golpe no eixo Roma-Berlim, invadindo a Itália e pondo fora da cena política o ditador italiano.
Já nessa ocasião os russos venciam os alemães em seu território, numa magnífica ofensiva, e as fôrças aéreas angloamericanas, com base na Inglaterra, desbaratavam a fôrça aérea alemã e desorganizavam a indústria pesada do Reich.
Atualmente, precedendo de apenas um dia a invasão, foi completada a ocupação de Roma, um dos sucessos mais sugestivos desta história da libertação de povos da opressão fascista.
O mundo, sensacionalizado repentinamente com a notícia da invasão, ansiosamente esperada foi tomado de um frêmito de entusiasmo pela causa da liberdade. Em todos os recantos do globo onde domina o espírito liberal contra a tirania reina um intenso júbilo pela abertura da segunda frente, no ocidente da Europa. E' que o sentimento de solidariedade aos povos oprimidos por Hitler está imensamente generalizado em todos os corações. E de um modo especial, o povo da França, é objeto dêsse sentimento universal, dado ao grau de grandeza a que atingiu na história aquele país e depois a humilhação a que foi submetido nesta guerra pelo vencedor germânico. Por isto é por demais significativo que seja o próprio território da França o campo onde se trava agora a batalha pela libertação da Europa, e que os acordes eletrizantes da Marselhesa, executada por ocasião da sensacional notícia revivendo uma epopéia da França assinale o entusiasmo que domina todos os espíritos no sentido da vitória aliada.
A batalha está travada e promete ser rude. Os objetivos a atingir são de tal magnitude e alcance para os destinos humanos, que o menos que se pode aceitar, como disse o general Eisenhower em sua mensagem, é a vitória completa.
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A repercussão do Dia D em Cachoeira foi estrondosa, como nunca tinham os munícipes registrado antes, conforme atesta a notícia do Jornal do Povo, edição de 8 de junho:
Grande regozijo popular em Cachoeira pela invasão da Europa
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Milhares de pessôas compareceram ao comício de caráter democrático - falaram vários oradores
Cachoeira, como todo o Rio Grande, como todo o Brasil, como todo o mundo livre do tacão nazista, viveu terça-feira última, um dos seus dias de maior entusiasmo cívico com as alviçareiras notícias de que as fôrças anglo-americanas haviam invadido o território francês para libertar a Europa escravizada.
Cêrca das 10 horas, já a cidade se achava tôda embandeirada, vendo-se pelas ruas grande número de populares que se congratulavam com a promessa palpável de uma nova era para o mundo.
Com todo o comércio e as repartições fechadas, às 15 horas teve lugar uma grande manifestação popular, comparecendo, também, em formatura os alunos dos principais estabelecimentos de ensino da cidade.
A concentração realizou-se na praça Baltazar de Bem, onde perante alguns milhares de pessôas, usou da palavra, em primeiro lugar, o dr. Constantino Rodrigues de Freitas, juiz municipal desta cidade. Ocupou a seguir o microfone da "Voz do Povo", ali instalado, e dr. José Oscar da Costa Cabral, promotor público da Comarca, e, por último, o acadêmico Liberato Salzano Vieira da Cunha. Todos os oradores, que foram vivamente aclamados, exalçaram o valor dos povos das Nações Unidas, em luta contra o inimigo comum da civilização.
A seguir, um extenso préstito, puxado pela Banda Municipal, tendo à frente uma representação do Aero-Clube, prefeito Ciro Carlos, coronel Nabor Augusto Ribeiro, comandante da Guarnição Federal, demais autoridades, colégios, entidades desportivas e grande massa popular, percorreu a rua 7 de Setembro até o Largo Colombo, regressando pela rua Saldanha à praça José Bonifácio, onde, ainda entre grande vibração cívica falaram pelo microfone da "Voz Sonora", o sr. Floriano Neves da Fontoura, advogado Aristides Moreira e dr. Orlando Carlos, que foram vivamente aplaudidos pela massa popular.
Êsse comício que foi um dos maiores que já teve lugar em Cachoeira terminou cêrca das 16 horas.
Segundo os historiadores, o Dia D vinha sendo planejado desde 1943 e, em junho de 1944, com o enfraquecimento das forças do Eixo e o fortalecimento dos Aliados, o momento se tornou propício. Cerca de 150 mil homens foram mobilizados para a ação, constituindo-se na maior operação de guerra da história.
Existem fotografias pertencentes à coleção particular de Armando Fontanari, sem identificação, que são ilustrativas da reunião de milhares de pessoas, como o jornal noticiou, na Praça Balthazar de Bem e na Rua 7 de Setembro. A coleção registrada por Fontanari, em grande parte, traz registros da década de 1940, o que pode referendar a suspeita de serem as aqui apresentadas registros das comemorações do Dia D em Cachoeira. Eis as fotos:
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Reunião de multidão na Praça Dr. Balthazar de Bem, fronteiro ao Colégio Elementar - Coleção Armando Fontanari |
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Deslocamento pela Rua 7 de Setembro - Coleção Armando Fontanari |
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