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Estado de sítio

Abril de 1892: o país enfrentava situação propícia para a eclosão de revoltas, como a Revolução Federalista que estouraria, no ano seguinte, na região sul do Brasil. 

O Marechal Floriano Peixoto, que sucedeu ao Marechal Deodoro da Fonseca, por renúncia deste em 1891, governava o país de forma muito autoritária. A maneira como assumiu o governo era uma das alegações dos que lhe faziam oposição, pois a Constituição de 1891 determinava eleições após renúncia do presidente da República antes que se cumprisse metade de seu mandato. Na condição de vice-presidente, Floriano Peixoto assumiu sem convocar as eleições, desgostando muitos republicanos e provocando cisões.

Começaram a pipocar reações pelo país, sendo a Revolta da Armada uma delas. Em 6 de abril de 1892, foi publicado o Manifesto dos 13 Generais, que contestava a legitimidade do governo de Floriano Peixoto. Foi a gota d'água para o presidente lançar mão de um mecanismo previsto na Constituição de 1891, o chamado estado de sítio, que lhe facultava, como chefe do Executivo, tomar medidas drásticas de aplicação imediata, dentre as quais mandar prender e degradar desafetos. Aliás, seu governo foi um dos que mais estados de sítio decretou, dando ideia do seu autoritarismo.

Foi neste contexto que no dia 11 de abril de 1892, a Junta Municipal de Cachoeira, que era a comissão de cidadãos que governava o município desde a proclamação da República, recebeu um telegrama da estação de Porto Alegre reproduzindo uma circular. O texto do telegrama, que apresenta algumas lacunas, diz:

Telegrama contendo circular assinada por Barros Cassal - 11/4/1892 
- JM/SOP/CR - Caixa 1

Circular á Junta Municipal

Governo Federal, achando-se em frente grave redição, na qual estão involvidos membros congresso, decretou por 72 horas estado de sitio a fim fazer recahir punição sobre todos. Manterá completa liberdade de imprensa e locomoção, inviolabilidade correspondencia. Batalhões e povo reunidos victoriaram marechal Floriano. Diversas cabeçilhas já presas, entre elles Menna Barreto que, pretendendo revoltar 10.º batalhão, fallando aos soldados em forma Foi salvo graças presença vic presidente da Republica. Governo manterá ordem publica. 

B. Cassal

Eram membros da Junta Municipal, nesse momento delicado da política nacional, os cidadãos David Soares de Barcellos, Antonio Nelson da Cunha, Isidoro Neves da Fontoura, Antonio Gomes de Oliveira e Manoel Alves da Silva. À frente do governo do estado estava, desde 19 de março de 1892, João de Barros Cassal. Seu mandato duraria até 8 de junho.  

Floriano Peixoto ainda decretou mais três estados de sítio em seu mandato, encerrado em 15 de novembro de 1894, quando Prudente de Morais assumiu em seu lugar. 

MR

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