A história das obras de saneamento em Cachoeira, constantes da distribuição de água e esgotos, procede das primeiras iniciativas tomadas pelo Coronel Isidoro Neves da Fontoura, intendente municipal. No ano de 1911 foi encomendado um projeto ao engenheiro Benito Ilha Elejalde, que não foi posto em prática. Dez anos depois, no dia 20 de setembro de 1921, aconteceu a inauguração da primeira hidráulica, nas proximidades do Hospital de Caridade, ficando a zona baixa da cidade atendida em seu consumo de água.
Em 1923, teve início o assentamento do conduto-mestre de doze polegadas e, em 1925, as obras de construção da segunda hidráulica, projeto que visava completar o abastecimento de água e atingir a zona alta da cidade. O avanço foi enorme não só na medida em que garantiu acesso mais amplo à água tratada, como também pelo conjunto de obras que conferiram elegância e modernidade à zona urbana.
As obras da segunda hidráulica, de grande envergadura, exigiram medidas anteriores à sua execução. Não só aporte financeiro, como contratação de técnicos e empresas especializadas tiveram início nos anos anteriores. A documentação produzida nas seções da Intendência era tanta que havia um carimbo especial:
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IM/RP/SF/D-220, 4/2/1924 |
Num livro protocolo de ofícios (IM/S/SE/PC-022) há um intrigante registro de correspondência remetida de Porto Alegre, feito em 24 de março de 1924. A síntese do ofício registra:
Barbedo, Barros & Cia. comunicando ter enviado junto a carta, o projecto para construcção de um "Chateau d'Eau" para esta cidade, encomendado por esta Intendencia.
Na margem de "despacho" da correspondência consta a observação: A' responder, accuzando o recebimento e indagando o preço. Em 22-3-1924. Annibal Loureiro.
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IM/S/SE/PC-022, fl. 8v - 24/3/1924
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No dia 27 de março de 1924, outro registro de correspondência recebida de Barbedos, Barros & Cia., cujo assunto era:
Barbedo, Barros & Cia., accusando o recebimento da carta de 24 do corrente, na qual accuzava o recebimento do projecto que elaboraram, para construcção de um "Chateau d'Eau" nesta cidade, quanto o custo do alludido projecto, orçaram as respectivas despezas, entre confecção e remessa, em 250$000.
No despacho duas observações:
A' informar. Em 31-3-1924. Annibal Loureiro. Pague-se, mediante portaria. Em 23-4-924. Annibal Loureiro.
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IM/S/SE/PC-022, fl. 11v - 27/3/1924 |
A portaria não foi localizada. Que projeto seria este? O fato é que a história e todos os relatórios da obra do Château d'Eau registram o projeto arquitetônico como do engenheiro Walter Jobim e a parte de cálculo e estabilidade pelo engenheiro-chefe da Comissão de Obras de Saneamento do Estado, Antônio de Siqueira.
Em 10 de junho de 1924, no mesmo protocolo de correspondências, o registro da recebida de João Vicente Friedrichs, datada de 5 de junho, em que comunicava ter ciência da encomenda do trabalho de esculturas para o Château d'Eau, por intermedio do Dr. Antonio de Siqueira, ficando combinado de commum accordo o orcamento [sic] ao preço total de 12:880$000 conforme seu orcamento de 25 de Março do corrente anno.
No despacho do intendente lê-se: A' 4.ª Secção para informar o prazo. Em 18-6-924. Annibal Loureiro. E a seguir: A responder, de accordo com a informação. Em 21-6-924. Annibal Loureiro.
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IM/S/SE/PC-022, fl. 19 - 11/6/1924 |
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Ninfa do Château d'Eau - foto Renato Thomsen |
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Perfil de uma ninfa - foto Robispierre Giuliani |
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Netuno - foto Ângelo Netto |
O trabalho de confecção das ninfas e de Netuno, colocado no topo do Château d'Eau, se confirmou. A condução dos trabalhos de confecção coube ao artista Giuseppe Gaudenzi, seguindo protótipo da estátua "A Samaritana", de Porto Alegre, obra do escultor Alfredo Adlof, também de 1925.
Novamente é o livro protocolo que traz informações preciosas sobre o processo de confecção do rico conjunto escultórico do Château d'Eau. No dia 15 de julho de 1924, à folha 24 do livro IM/S/SE/PC-022, consta:
João Vicente Friedrichs, sua carta de 12 do corrente, confirmando sua carta de 10 do corrente e ter o prazer de apresentar pelo portador desta o Sr. Prof. José Gaudenzi, seu representante, que vem para combinar bem o proprio lugar parar bôa execução do restante dos trabalhos de escultura, explicando os trabalhos que ja se acham promptos, e pela opportunidade toma a liberdade de pedir permissão, autorisando-lhe girar um saque de 5:000$000 com o prazo de 60 dias, por conta dos trabalhos contratados. No despacho: Respondido. Em 17-7-924.
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IM/S/SE/PC, fl. 24 - 15/7/1924 |
Interessante é perceber que a documentação referida não se encontra no Arquivo Histórico, assim como outras citadas no protocolo de correspondência, o que pode indicar que parte importante do conjunto documental do Château d'Eau tenha sido separada e se encontra, lamentavelmente, até o momento desaparecida.
A obra do Château d'Eau, que nos fascina até hoje, envolveu inúmeros personagens, desde aqueles que o encomendaram, projetaram, executaram e custearam.
MR
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