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Série: Centenário do Château d'Eau - a inauguração

As obras de saneamento, ainda que concluídas, necessitavam que a Usina Municipal fosse dotada de novas máquinas com capacidade para gerarem a corrente elétrica necessária para pôr as bombas da Segunda Hidráulica em funcionamento. Tais máquinas foram instaladas uma semana antes da sua inauguração oficial, em 18 de outubro de 1925.

O jornal O Commercio abriu a edição do dia 21 de outubro de 1925 com uma grande matéria, intitulada SANEAMENTO DA CIDADE – Experiencia oficial – Varias notas.

Dentre as notícias veiculadas naquela edição, o relato da experiência oficial da nova hidráulica, às 16 horas, quando um grande número de pessoas se dirigiu às instalações, próximas ao quartel do 3.º Batalhão de Engenharia, em carros tracionados por animais, automóveis e a pé para presenciarem aquele momento histórico. Autoridades, representantes do comércio, imprensa, associações civis e religiosas, famílias e elementos de todas as classes sociais acompanharam o desenrolar das solenidades, tomando as dependências do novo lugar.

Pavilhões da Hidráulica (segunda) Municipal - foto A. Saidenberg

Na sala das máquinas, usou da palavra o engenheiro Dr. Paulo Felizardo, da empresa Silveira, Soares & Cia., empreiteira das obras da Segunda Hidráulica, que fez a entrega simbólica das instalações ao vice-intendente em exercício, Dr. João Neves da Fontoura, "a quem convidou para pôr em marcha os motores".

João Neves proferiu entusiasmado discurso, sendo muitas vezes interrompido pelos aplausos da assistência. Findo o pronunciamento, acionou uma alavanca que pôs os motores em funcionamento, ocasião em que houve brindes com champanha e finos doces.

O comandante do 3.º Batalhão de Engenharia, Capitão Helio Gonzales, falou em seguida, sendo depois feita a bênção oficial às novas instalações pelo Padre Luiz Scortegagna. Todos foram convidados a assinar a ata elaborada por Emiliano Carpes, secretário do município.

Depois da experiência oficial, que logrou êxito, a firma Silveira, Soares & Cia. ofertou um suculento churrasco aos presentes. 

Especificamente sobre o Château d'Eau, o jornal traz a seguinte nota:

Dias 16 e 17, passaram-se em expectativa por parte do publico, e em ensaios e reajustamentos por parte da administração, pois o segundo passo, isto é, o recalque dos filtros ao chateau d'eau, era negocio mais sério. Mais de um kilometro de distancia, com grande elevação, não se transpõe tão facilmente. Chega finalmente o dia 18, marcado para a experiencia official e decisiva.

Château d'Eau à Praça Dr. Balthazar de Bem - foto A. Saidenberg

As noticias são animadoras. Houve já quem ouvisse, fóra do circulo official, o escachoar do precioso liquido no ambito do chateau d'eau, travando o Jacuhy, pela primeira vez, relações de camaradagem com o potente Neptuno e com as graciosas nymphas, que circumdam o castello, cada uma com o seu pote, em attitude de despejal-o, em obediencia, quem sabe! ás instrucções do operoso ex-intendente Annibal Loureiro, a cujos acenos vieram as nymphas e a cuja vontade fanatica entraram em via pratica as grandes obras dos melhoramentos materiaes de Cachoeira.

Ás 4 horas da tarde accorreu uma verdadeira multidão ao pittoresco local das installações iniciaes, sendo festivamente celebrada a experiencia total da hydraulica, coroada, como a primeira, de completo exito.

O blog do Arquivo Histórico não poderia deixar de registrar esta importante data, quando o mais venerado monumento de Cachoeira do Sul, verdadeiro cartão-postal e ícone cultural, atinge os 100 anos de existência. Desde o início de seu funcionamento como reservatório elevado da Segunda Hidráulica, que trabalhava em uníssono com o reservatório enterrado da Rua Júlio de Castilhos, até o tempo em que deixou de fazer parte do sistema de distribuição de água para apenas embelezar a Praça Dr. Balthazar de Bem, o Château d'Eau adquiriu um valor imensurável dentro da paisagem urbana e dos corações dos cachoeirenses. Que nos próximos 100 anos as gerações futuras o conservem e valorizem como um monumento que honra a nossa história e que dignifica toda a estética que nossos antepassados foram capazes de produzir para embelezar para sempre esta terra.

Château d'Eau - foto Ângelo Netto

Mirian Ritzel

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